sábado, 18 de julho de 2009

As coisas


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Gostava que as coisas fossem mais simples, mais límpidas, mais estáveis. Gostava de encarar as coisas de uma forma mais leviana. Gostava de lhes devotar menos do meu tempo, torná-las insignificantes. As coisas insistem em estonteante rodopio, as coisas fazem absoluta questão em manifestar a sua presença onde quer que esteja. As coisas fazem bis. As coisas acumulam pó pelos cantos. As coisas, às vezes, aninham-se bem quietinhas, pézinhos de lã no fundo na minha imensa inquietação. A coisas ficam enquistadas, letárgicas, dormentes, numa eufórica anestesia que tudo esconde e tudo esquece. As coisas são parasitas. Sugam-nos o sangue e comem-nos os ossos até ao tutano. Nem os cães depois os querem. As coisas são, assim concluo, corrosivas. As coisas reactivam quando menos damos por elas. As coisas são cancros. E o meu, à vista das dores que me atormentam o sono, já se espalhou pelo corpo todo.

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