terça-feira, 21 de outubro de 2008

Os filmes que se vêm e a música que se ouve


Não sou uma cinéfila convicta porque não tenho tempo. É lamentável, mas ver um bom filme é um luxo do qual a minha agenda não me permite o deleite diário. É o tempo de ir até ao clube de vídeo, encontrar lugar para estacionar, pagar 20 cêntimos no parquímetro, subir vários lances de escadas (sim, porque eu só uso o elevador como meio de deslocação em último recurso), alugar o filme, descer as escadas (para baixo consta que todos os santos ajudam), fazer o caminho até casa e sentar-me 2 a 3 horas em frente ao ecrã a tirar finalmente partido da ansiada película. E depois repetir tudo para a devolver no dia seguinte, que é para não correr o risco de pagar multa. Por isso é que sempre me rendi muito mais facilmente à música que ao cinema ... a música é uma forma de arte muito mais imediata, que pouco exige de nós ... podemos sempre por o cd a tocar enquanto fazemos a Salada Russa, e, no caso de se ser mulher (logo, de se ser exímia na realização de multitarefas), podemos ainda em simultâneo telefonar ao Veterinário a marcar a castração do bichano, passar creme corporal nas flexuras dos membros locomotores e coçar o dedo mindinho do pé esquerdo, tudo em simultâneo. Ou então passar uma tarde em alegre périplo pelas lojas de electrodomésticos, a comparar preços de fritadeiras e máquinas de lavar roupa, enquanto o António Variações nos berra aos ouvidos "Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga" no Ipod ou Leitor de mp3. Claro que apreciar verdadeiramente a boa música exige paixão, tempo e dedicação, mas, de uma forma geral, a música é uma forma de arte quase gratuita. O cinema não. É muito mais exigente para com o espectador, exige-lhe fidelidade, devoção, atenção, com risco de se perder o fio à meada para não mais o encontrar ... a não ser que se carregue no botão do rewind, e lá está a paga pela asneira ... mais tempo perdido a voltar atrás. Esta é a razão pela qual o cinema, apesar de responder no masculino "O" é, de certezinha, mulher. Quem a quiser perceber tem que apanhar a história do início senão acaba por não perceber nada. Daí o velho cliché "Não percebo as mulheres". Pura falta de atenção. E este é um factos pessoalmente por mim comprovado: os poucos cinéfilos acérrimos que conheço são, realmente, entidades providas de uma grande sensibilidade estética, diria quase feminina. Atenção, ninguém está aqui a dizer que os apreciadores de bom cinema são gays. Só quem tem uma mente pequena é que confunde sensibilidade com escolha sexual. Mas isso é outra história sobre a qual não me quero alongar (no Dia Mundial da Liberdade de escolha sexual, se tal coisa existir, eu falo disso ... agora não). Bem, e com isto me perdi (lá se foi o fio e agora onde e que está o raio da meada?). Dizia eu que não tenho grande tempo para essas coisas dos filmes. Alugar é, indubitavelmente, a melhor opção hoje em dia. O cinema fora de casa está caro, nada se compara ao conforto do sofá da nossa sala, não temos que aturar com os barulhos de sucção da coca-cola do senhor gorducho da fila de trás nem com os borburinhos estranhos que vêm do fundo da sala quando o volume sonoro diminui, e, além disso, o peso na consciência nunca é tão grande porque as nossas pipocas caseiras têm sempre muito menos gordura, corantes e conservantes que as dos cinemas. Mas a principal razão pela qual raramente lá me apanham é a seguinte: em Coimbra nunca estreiam filmes de jeito (à excepção dos esporádicos ciclos de cinema no TAGV). É coisa rara haver um filme que me desperte a atenção e me leve a deslocar a um dos dois centros comerciais desta cidade (sim, porque os 2 cinemas que existem estão incorporados nos chamados templos do consumismo). Ora, muito contentinho o Cotão se encontra por o novo filme dos irmãos Cohen ter estreado no seio desta pequena grande aldeia. E tão contentinho ficou que decidiu que esta era uma oportunidade a não deixar escapar. É provável que o próximo filme de jeito a cá passar só o faça no final do próximo mandato presidencial. Muitos meses depois de Sweeney Todd do seu adorado Tim Burton (eu, que não gosto nada de musicais, dei-lhe o benefício da dúvida para acabar por descobrir que o meu problema está mesmo no musical em si e não no resto), o Cotão volta às salas de cinema. Que isto um dia não são dias ...

2 comentários:

m disse...

Se tivesses dito alguma coisa teria colocado eu própria as pipocas ao lume (sem as esturricar :D), estou ansiosa por isso, pela nossa próxima sessão de Home Cinema without ticket.

Bj

Caty disse...

Eu também ... olha que me prometeste pipocas não esturricadas ... IMEEEEENSAS pipocas não esturricadas.
Mal posso esperar ... isso e para te dar um beijinho grande ;)