domingo, 12 de abril de 2009

A crise



Soltam-se os tiros e os foguetes e ouve-se o tilintar de um sino, Ai Jesus que lá vem o padre e a criançada, pureza angelical que é coisa só vista, levanta-se tudo a correr da mesa das sobremesas, gente desenfreada ainda com bocados de Pudim Abade de Priscos por entre os dentes, um inesperado surto de histerismo manifestado nos gritinho agudos e na correria desnorteada. Penso eu que esta gente ficou toda tonta de repente, e que ainda bem que numa altura cataclísmica como esta a minha base em pó da Clinique nunca me falha. Posso estar assim para o simplezinha (eu prefiro defeni-lo como modesta) mas ao menos a tez está sempre perfeita. E a passos tantos começo a pensar também que, com estas ideias, a tonta aqui sou eu. Entra então em casa o Senhor, com pompa e solenidade, ALELUIA, ALELUIA, paz nesta casa, blá blá blá que a certa altura eu desligo por completo. Pegam os meninos no dinheirinho, contentinhos, roubam à mãozinha cheínha as amendoínhas e os ovinhos, de barriguinha forradinha lá levam eles o folarzinho para juntar ao saquinho que já vem farto de outras casinhas e mais farto ainda vai ficar quando entrar nas outras casinhas que ainda faltam abençoar. E já cá fora lá vem o padre tirar o envelope aos meninos, que cai directamente no bolso de trás das calças por baixo da solene fatiota. A visita Pascal que ainda resiste nas aldeias por este país fora é, de facto, deliciosa, e merece suados esforços no sentido da sua preservação. E parece-me a mim que, na minha freguesia, situada dentro do perímetro urbano, já se planeia resgatar tão bonita tradição. Sabem o que eu digo? É a crise meus amigos ... é a desgraçada e malfadada da crise. Raios partam a crise ...

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