sábado, 6 de junho de 2009

Eternal sunshine of the spotless mind


Dou por mim a pensar que estas coisas deviam ser como no filme do Michel Gondry ... podíamos recorrer a clínicas especializadas no apagamento de memória de tudo o que diz respeito a relações e relacionamentos (não sei se compreendem a diferença) de um passado longínquo, ou nem tão logínquo quanto isso. Tornava o dia-a-dia um pouco mais simplificado. Ou então sou eu que tenho tendência a complicar o que na verdade é de uma óbvia simplicidade. Cada vez mais colecciono certezas acerca do facto de aquela coisa chamada instinto maternal só servir para nos atrapalhar a existência. E com sentido maternal não me refiro a ter bebés. O nosso sentido maternal reflecte-se nas mais insignificantes tonalidades que imprimimos às ligações que acabamos por estabelecer com os outros. De um modo geral, gostamos de tomar conta. Como na canção do Caetano Veloso, "Quando a gente gosta é claro que a gente cuida". E deste modo intuitivo nos afeiçoamos a quem devemos e a quem não devíamos. E nem sempre incitamos formas saudáveis de lidar com a situação. A minha abordagem, notei eu recentemente, manteve-se firme desde que me (re)conheço como gente: esquecer, afastar, seguir em frente. Com o tempo cicatrizam-se as lesões mas fica qualquer coisa a moer, irritantezinha, persistente. É aqui que entra o dito filme (o qual, tenho a dizer, faz parte da minha lista de amores cinematográficos devotos) ... um botãozinho para apagar tudo o que sobrou empacotado em memórias dava imenso jeito.

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